Disse, depois do jogo com o Sporting, que a época da Académica roçou a mediocridade.
Em primeiro lugar quero dizer que foi uma época ligeiramente melhor daquelas que a Académica fez em anos anteriores. E é ligeiramente melhor porque a Académica nunca esteve abaixo da linha de água e teve sempre uma almofada de cinco/seis pontos que lhe deu alguma segurança e alguma estabilidade. Mas tendo em conta a ambição de um clube que tem atrás uma cidade que ainda se identifica com o futebol como é o caso de Coimbra, que ainda tem uns milhares de pessoas no estádio apesar das épocas de sofrimento que tem vivido, que tem alguma estabilidade salarial, na medida em que pagou de forma constante e atempadamente aos seus profissionais, que tem condições de trabalho aceitáveis, que tem um bom estádio e que é um clube histórico, não posso negar que está época, de alguma maneira, denuncia a tal tangente da mediocridade que não se quer. Embora exista o reconhecimento de alguma melhoria, não é ainda a melhoria que se pretende.
O que correu mal?
Não colocaria a questão como algo específico que tenha corrido mal. No futebol há alguns imponderáveis e a Académica não fugiu a essa regra. Estou a referir-me à inadaptação de alguns jogadores que vieram de outros mercados e que tiveram dificuldade em afirmar-se, a um conjunto de lesões de longo prazo que também perturbaram, a uma revolução que foi feita em termos numéricos no plantel... A conjugação desses factores acabou de alguma maneira por ser uma condicionante ao desempenho e ao rendimento que se procurava.
Os resultados em casa foram especialmente negativos...
A Académica, ao nível do desempenho, ao nível exibicional, esteve muito conseguida. Foi a própria crítica da especialidade que de uma forma quase constante abonou a qualidade do futebol por nós praticado. Mas temos de reconhecer que nunca conseguiu, e eu disse-o de forma frequente, adicionar esse bom nível exibicional ao rendimento pretendido. Não foi uma equipa pragmática, que de alguma maneira jogou de forma a satisfazer no plano estético quem estava na bancada mas que não conseguiu ter a eficácia que se procurava. Isso acresceu no nosso terreno, na medida em que quando jogámos no Cidade de Coimbra, em virtude das equipas jogarem mais fechadas, fomos sempre vulneráveis ao contra-ataque dos adversários. Daí o muito mau desempenho que a Académica teve no seu próprio terreno, nomeadamente na segunda volta do campeonato. Se assim não fosse, a Académica teria uma classificação semelhante àquelas que têm os clubes que vão à Europa.
Quais as razões para esse mau desempenho?
Além dos factores que enumerei, a própria estrutura do Estádio Cidade de Coimbra não ajuda. É um estádio muito grande, extremamente aberto, a massa associativa, que no apoio foi quase uma constante, dilui-se, os adversários têm muito à vontade para fazerem o seu futebol e os adeptos, embora se esforcem por ajudar, acabam por não materializar essa ajuda. Mas de todos os factores, a realidade é aquela que sobrou em termos pontuais.
Foi, portanto, uma época longe das expectativas. Houve quem falasse na Europa...
Especulou-se muito em relação a isso. Eu fui muito claro logo na apresentação, falei sempre na manutenção e numa época mais tranquila do que aquilo que tinham sido as anteriores. E, já o disse atrás, ela foi mais tranquila, embora não tão tranquila como desejávamos.
Saiu de V. Guimarães e Nacional depois de ter conseguido o apuramento para a UEFA. Em Coimbra, depois de uma época sofrida, continua. Teimosia ou desafio?
É uma questão de teimosia e por ser um homem de desafios. Por todos os pressupostos que já enumerei, acredito que a Académica tem os requisitos necessários para afirmar-se na primeira metade da tabela do futebol português. A Académica vive já o seu melhor período desde os anos 70, já que pela primeira vez consegue estar seis anos consecutivos na I Liga, embora sempre em sofrimento. A Académica poderá, com persistência e alguma teimosia, fazer melhor. Acredito que poderá fazer melhor já no imediato.
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