Formada inicialmente exclusivamente por alunos da Universidade de Coimbra, a Académica transportou durante o tempo a aura e a mística da Academia coimbrã. Lutando com galhardia pelos campos - primeiro pelados, depois relvados - deste país, os estudantes granjearam a simpatia de adeptos do Algarve ao Minho. Com grandes equipas que fizeram história no futebol nacional e que estiveram na frente da oposição política ao anterior regime, a Associação Académica de Coimbra é um orgulho da cidade do Mondego, do seu distrito e de todo um país.
Os primeiros pontapés no Largo de D. Dinis
As raízes da Académica remontam ao Clube Académico de Coimbra, fundado em 1861. Foram membros desse clube, atletas e estudantes da Universidade, que fundaram a Associação Académica de Coimbra a 3 de Novembro de 1887.
Após um período de desavenças entre os estudantes e a Universidade, com confrontos com a polícia académica que resultaram em prisões e expulsões e um conjunto de greves decretadas às aulas pelos estudantes, a associação é suspensa e a própria Universidade é encerrada temporariamente.
Entretanto o futebol começara a ganhar espaço na «Lusa Atenas». Em Março de 1894 disputara-se um confronto entre o Ginásio coimbrão e o Ginásio aveirense, clube fundado por Mário Duarte, fundador da A.F. Aveiro, pai de um futuro academista (Francisco Duarte) e avô do poeta Manuel Alegre.
A paixão pelo jogo alastrou pela cidade. A Universidade como pólo aglutinador de gentes de todo o país e do estrangeiro foi fundamental para a disseminação do jogo não só na própria cidade, como também noutras regiões do país.
O Largo de D. Dinis – actual Praça da República – foi a primeira «casa» do futebol coimbrão, onde grupos de jovens se reuniam para jogar ocasionalmente. Mais tarde os matches mudaram-se para a Ínsua do Bentos, para mais tarde regressarem à «alta» da cidade e ao velho Largo de D. Dinis.
Em Janeiro de 1901 a Associação já dispunha de uma secção desportiva e que já praticava futebol, como tão bem atesta um requerimento da associação para a Câmara Municipal pedindo que fosse arranjado o Largo de D. Dinis com vista à utilização do espaço para organizar jogos de futebol.
A Associação Académica
Após o advento da República (5 Outubro 1910) a Universidade de Coimbra perdeu o seu estatuto especial quando o novo governo abriu novas universidades em Lisboa e Porto quebrando o monopólio coimbrão. Contudo, a Universidade continuou a ser a maior e a mais respeitada de Portugal, atraindo jovens de todo o país.
Foram alguns desses rapazes que se reuniram na Ínsua dos Bentos para o primeiro treino para os «players do team da Académica» em Janeiro de 1911. Mais tarde veio o primeiro jogo que valeu uma vitória sobre o Ginásio por 1x0.
Os estudantes conquistaram a Taça Monteiro da Costa ao FC Porto em 1912/13 ganhando prestígio fora da cidade e da região. Durante toda a década o clube foi-se transformando no maior da região e em 1922 viu a A.F. Coimbra ser criada com a Académica como membro fundador.
Em 1922/23 os estudantes chegaram à final do Campeonato de Portugal onde foram vencidos pelo Sporting por 0x3, num jogo disputado em Faro.
Estreia na Liga e conquista da Taça
Quando a primeira edição da I Liga teve lugar a Académica foi uma das oito equipas que participaram, terminando no oitavo e último lugar.
O maior feito da história do clube foi atingido em 1938/39, quando a Académica conquistou a primeira edição da Taça de Portugal, vencendo o Benfica por 4x3 na final.
No campeonato nacional a Académica consegue o quinto lugar pela primeira vez na segunda edição, mantendo-se entre os grandes até 1948, ano em que desce pela primeira vez de divisão. No ano seguinte conquista o título de Campeã da II Divisão e volta à primeira onde se mantém durante mais 23 anos.
Em 1951 os academistas chegam à final da Taça para defrontar novamente o Benfica, mas desta vez a sorte sorri aos encarnados que vencem por um claro 1x5. Na segunda metade dos anos 60 o clube entra na melhor fase da sua história. Começa por conquistar um quarto lugar em 1965, a melhor classificação até então da história academista, e dois anos depois chega a época dourada dos estudantes.
Numa equipa dirigida por Mário Wilson pontificavam Artur Jorge (segundo melhor marcador do campeonato), Toni, Rui Rodrigues, Manuel António e o macaense Rocha (capitão de equipa) entre outros. Os estudantes deram réplica ao grande Benfica de Eusébio e acabaram o campeonato em segundo lugar a três pontos dos da Luz. Na Taça chegaram à final onde perderam 2x3 com o Vitória de Setúbal após duas horas e 24 minutos de jogo que tornam a final de 1967 a mais longa partida disputada até hoje em Portugal.
Em 1967/68 a Académica volta a ficar num quarto lugar e na estreia nas competições europeias em 1968 é eliminada na primeira eliminatória da Taça das Cidades com Feiras pelo Lyon após desempate por moeda ao ar.
A final de 1969 ou o «comício do Jamor»
No fim da época de 1969 a Académica chegou à final da Taça de Portugal mais uma vez. Contudo, o quarto jogo decisivo da Briosa não foi uma final como as outras. Vivia-se a crise Académica de Coimbra e o regime que entrava na primavera marcelista não sabia lidar com a contestação estudantil.
No dia da grande final os estudantes tinham o apoio efectivo de estudantes de todo o país, de oposicionistas e simpatizantes com a oposição. Em abono da verdade, muitos benfiquistas preferiam que fosse a Académica a vencer nessa tarde.
A equipa, solidária com a luta da Academia, entrou em campo com a capa caída pelos ombros em sinal de luto académico. Nas bancadas havia cartazes onde se lia: «Universidade Livre», «Estudantes Unidos por Coimbra» ou «Melhor ensino, menos polícias». Carlos Pinhão, jornalista de A Bola, classificaria mais tarde este dia como «um dos maiores comícios de sempre contra o regime».
Artur Jorge, a grande vedeta da equipa, fora chamado para o serviço militar e impedido de treinar e disputar a final, mas um golo de Manuel António a dez minutos do fim fez os estudantes sonharem com o triunfo. Otto Glória, treinador dos encarnados, confessou mais tarde que pensou que «estava tudo perdido», mas não estava, cinco minutos depois o Benfica empatou levando o jogo para prolongamento onde apontou um segundo tento e levou a Taça para Lisboa.
Como o Benfica além de vencer a Taça, foi campeão nacional, em 1970 a Briosa estreia-se na Taça das Taças onde chega aos quartos-de-final depois de eliminar os finlandeses do Pallos e os alemães de leste do Magdeburgo antes de cair às mãos do Manchester City.
O Académico e o Organismo Autónomo
Na época 1974/75, em consequência da Revolução de Abril, após a extinção do futebol na AAC, surge o Clube Académico de Coimbra que a FPF reconhece como legítimo sucessor da Académica e que toma o seu lugar na I Divisão.
Em 1984 o clube volta a denominar-se Académica quando é criado o AAC - Organismo Autónomo de Futebol -, que volta a recuperar também o antigo emblema dos estudantes.
O clube que só tinha passado duas épocas na II Divisão até ao 25 de Abril de 1974 entra num período de subidas e descidas que culmina na despromoção em 1989 e que durou até 1997. Este foi o verdadeiro período negro da Académica que terminou em 1996/97 com um terceiro lugar que foi festejado nas margens do Mondego como se de um Campeonato do Mundo se tratasse.
Após três anos entre os grandes o clube voltou a cair na II Liga de onde emergiu em 2002 para iniciar mais um longo período entre os grandes num novo processo de crescimento da Académica que viu o Estádio de Coimbra ser renovado para receber o Euro 2004.
Numa história antiga e gloriosa a Académica foi a alma da Academia coimbrã, o que justifica a enorme simpatia que desperta por todo o país, mas muito disso também se deve à constelação de estrelas que vestiram a mítica camisola preta: António Bentes, Mário Wilson, Toni, Victor Campos, Albano Paulo, Crispim, Artur Jorge; ou os treinadores que lideraram a orquestra academista como Cândido de Oliveira e Fernando Vaz, ou mais recentemente André Villas-Boas e Domingos Paciência.
Autoria do texto: João Pedro Silveira
http://www.zerozero.pt/
Sem comentários:
Enviar um comentário